Hoje à noite dá o episódio mais esperado, mas o menos
desejado…
Não me lembro de nenhuma série me ter prendido assim tanto,
nem na adolescência.
Hoje em dia vejo pouquíssima televisão. Mas o "This is us"...
Não sou o que pode ser considerado um “viciado” em séries,
mas já houve algumas que eu gostava de ver e que acompanhava.
Mas o This is us, nesta idade, é diferente…
Isto é, efetivamente a nossa vida!
No meu caso ajudou-me a confrontar com uma realidade: o meu
envelhecimento. Apercebi-me que a minha identificação é com o Jack (o pai da
série!). Não é a versão de filho, mas sim "o pai de família"! Estou crescido! E ao ver a série dou por mim a transpor a minha vida
para a do Jack: a dificuldade de educar, o querer dar atenção a todos os
filhos, lidar com as desilusões deles, com as nossas, com as da mulher. Estar
atento à mulher. Ser bom marido. Ser bom profissional. Ser bom pai. Ser boa pessoa. Adiar sonhos e projetos. Encontrar-se a si próprio. Lidar com as suas crises. Lidar com os seus fantasmas. Estar atento aos outros.
O Jack é magistralmente perfeito na sua imperfeição.
E eu
dou por mim a querer ser igual a ele.
O Jack tem fraquezas. O Jack tem vícios. O Jack falha.
Mas o Jack é optimista. O Jack é humilde. O Jack é
apaixonado pela vida, pela família e, essencialmente, pela mulher.
É desta paixão que lhe vem a força para a vida. E cada vez
que o Jack falha nós sofremos com ele.
Ao acompanharmos a série podemos ver os filhos em idade adulta e conseguimos vislumbrar a influência do Jack e as consequências da ausência do Jack em grande
parte da vida deles.
Como teria sido diferente se o Jack tivesse vivido e tivesse
podido acompanhar o seu crescimento mais tempo e dar-lhes conselhos?
Esta noite o Jack vai morrer.
E com esta morte confrontamo-nos com a vida não ser como a
sonhamos, como a planeamos.
Constatamos que não temos a vida – nem nada – nas nossas
mãos. Hoje vamos assistir como é que um incidente (que aconteceu há 20 anos
atrás) provocou uma curva e uma alteração vertiginosa no rumo das vidas de
várias pessoas, com consequências ainda hoje.
É ficção. Não é verdade. Mas há tantas vidas assim.
As nossas vidas são assim: com acontecimentos inesperados
que nos marcam e moldam, inevitavelmente para a vida inteira.
Hoje o Jack vai morrer.
Hoje, um bocadinho daquela família vai morrer.
E eu vou sentir como se também eu morresse um bocadinho,
porque nem sempre conseguimos alcançar todos os sonhos, porque a vida é curta e
muitas vezes adiamos esses sonhos!