domingo, 2 de julho de 2017

This is me! This is us!



A Ritita gosta muito do filme "O Amor acontece" cuja primeira cena é num aeroporto e que explica todos os sentimentos que acontecem num aeroporto: a ansiedade, a tristeza, a alegria,...
Acho que há outro sítio que é assim, que é o hospital!

Bem ou mal, todos nós devemos passar algumas vezes pelo hospital ao longo da vida.
Neste caso, este hospital concreto, faz parte da minha vida... 

A primeira vez que me lembro, ou melhor, o momento em que o hospital Fernando da Fonseca (ou Hospital Amadora-Sintra, tal como é conhecido) passou a fazer parte da minha vida, foi no início da minha adolescência, quando um amigo nosso foi atropelado e nós quase que nos mudámos para o hospital durante o Verão.
Viemos de carro, de comboio, de autocarro. Éramos miúdos e queríamos estar juntos.
Nessa altura aprendemos a conhecer os corredores. Aprendemos a entrar pelas urgências, pelas consultas externas. Aprendemos truques para sermos mais a entrar e a passarmos a tarde no quarto. Uma vez chegámos a juntar-nos uns 15 num daqueles quartos das visitas, a jogar ao Uno! Volta e meia éramos expulsos... :)

Depois crescemos.
A minha mãe foi operada. Foi enquanto ela estava nestes quartos que recebi uma das piores chamadas da minha vida. Uma chamada de despedida que, graças a Deus, não veio a acontecer.
As estradas voltaram a trazer-me para aqui, por operações consecutivas e histórias mal explicadas.
Quis o destino que num desses internamentos acontecesse o nascimento da minha primeira filha. 
No mesmo hospital. Uns pisos abaixo.
Era quase 22h quando ganhei o epíteto de pai, pela primeira vez. Tirei uma fotografia manhosa e arrisquei-me a atravessar os corredores do hospital a essa hora. Passei de uma torre à outra e mostrei a fotografia da primeira neta à minha mãe.
Ao sair do hospital, lembro-me, como se fosse hoje, desse pensamento e sentimento de olhar para o hospital, com algumas janelas iluminadas, e de pensar que deixava ali 3 gerações de mulheres.
As mulheres mais importantes para mim: a minha mãe, a minha mulher, a minha filha.

Passaram mais alguns anos. A minha 2ª filha nasceu. No mesmo hospital.
Foi nesse hospital, noutro piso, que voltei a passar uma semana. Entre intervalos e pausas. Horas de almoço e finais de dia, uma ginástica para estar junto à minha família.

Nasceu a minha 3ª filha. Nasceu o meu 4º filho. Em ambos os momentos senti o apoio da equipa do hospital nesses momentos especiais.

Pelo caminho ainda voltei ao mesmo hospital para ver a minha avó pela última vez. Foi aqui, numa destas camas, com os mesmos lençóis, que a vi deitada e que falei com ela pela última vez.

Ao longo destes anos, houve outras vezes que a estrada me trouxe até este hospital, mas estas foram as mais marcantes.
Nos próximos anos sei que virei outras vezes.
Dessas vezes, tal como até agora, virei aqui, a este hospital, ter boas notícias e sorrir. Virei aqui ter más notícias e chorar. Virei aqui... viver a vida!

Já o disse no outro post: maus profissionais há em todo o lado mas, felizmente, a esmagadora maioria dos profissionais com quem me cruzo têm tido uma palavra de conforto, um sorriso, uma troca de experiências. E é tão melhor quando é assim!
Os seguranças e as senhoras da receção veem uma pessoa grávida e desejam que corra tudo bem. Não são máquinas. São humanos! Também eles têm mulheres ou filhas que vão ser mães ou que já foram. Também eles serão um dia pacientes...
Desta última vez aconteceu um outro fenómeno: as senhoras da receção do hospital decoraram os nomes das nossas filhas. Sabiam a nossa cama! Sorriam e perguntavam-lhes se o Martim estava bem.
Assim, durante um bocadinho, este hospital foi mesmo a nossa casa.

Este hospital faz parte da minha família.
Infelizmente a maior parte das séries norte-americanas transformam o que se vive em hospitais numa novela de affairs, entre os corredores. Mas quando olhamos para os corredores reais do hospital vemos outras coisas. Vemos que aqui há dramas. Aqui há sonhos. Aqui há pessoas que trabalham. Aqui há esperança. E as pessoas que aqui trabalham testemunham-nos todos os dias. E mesmo assim, ainda conseguem lidar com isso como se fosse a primeira vez.

Este hospital conta um bocadinho da minha história.
Este hospital conta um bocadinho da minha vida.
Sempre que estou neste hospital sinto que:

This is me!
This is us!

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